Fórum Social Temático 2012



É incrível a capacidade de reunião de diversas nacionalidades que o Fórum sediado em Porto Alegre propõe. Esse fórum social temático tem proporções do Fórum Social Mundial, e com certeza colocará em questão o retorno do evento principal a sua cidade fundadora. No entanto, no que diz respeito a temática do fórum poderíamos resumi-lo em: "O que fazer?".

É difícil compreender como a crise mundial que se arrasta desde os idos de 2008 continua sendo tratado como um tema recente, ainda não explorado, como se o ano de 2011, intenso em termos de debates e conflitos, não tivesse passado. A crise mundial é geralmente tratada em termos gerais, nos quais poderiam ser facilmente lidos já em 2008. Trata-se de uma crise de ciclo do capitalismo, de proporções sistêmicas, e coloca-se em cheque o estado de coisas propostas pela forma de organização social capitalista. Se pararmos para pensar friamente, essas questões não são "novas", elas caminham conosco desde 1990, quando o sistema capitalista deu seus primeiros sinais de uma crise extrema. No entanto, parece que a colocação de tópicos e nossas discussões propostas como temas nos fóruns não tem avançado junto com a crise. Vários pontos importantes vividos mundialmente no ano passado, (repito: ano passado, um passado recentíssimo, que deveria estar fresco na memória de todos) não estão sendo abordados da forma como deveriam dentro do fórum.

Um exemplo gritante da nossa incapacidade analítica momentânea pode ser ilustrada com o seminário promovido pela Carta Capital, no dia de hoje 26 de janeiro de 2012, no Auditório da Escola Superior da Magistratura. Apesar dos grandes nomes que compunham a mesa, tais como Ignácio Ramonet (diretor do Le Monde Diplomatique da França) e Luiz Belluzzo, que trataram da história recente de maneira perspicaz, falhou em responder o questionamento central proposto pelo debate: "quais os rumos da esquerda no século XXI?". Para responder essa questão fundamental, é preciso retomar todos os importantes movimentos da crise, como foi brilhantemente apontado pelos palestrantes, mas faltou o resgate das movimentações sociais ocorridas a partir da crise. A crise econômico-financeira, do capital especulativo e o fim de um ciclo capitalista também tem suas repercussões importantes no âmbito político. A ironia máxima vivida pela palestra foi que todos da mesa, economistas em formação, apontaram que a crise é antes POLÍTICA, e em nenhum momento abordaram os aspectos latentes referentes ao espectro político como os movimentos sociais.

Para encontrar uma resposta tanto procurada pelo Fórum ("um novo mundo é possível"?) é importante sim o debate coletivo, mas ele deve ser direcionado para que os grupos discutam as formas de movimentos sociais que estão sendo gerados pela crise. Occupy Wall Street e o próprio movimento hacker promovido por Anonymous são novas formas de manifestação, que devem ser estudadas para além dos seus ganhos e repercussões imediatas de seus atos. Anonymous, por exemplo, pode não ser um movimento hacker muito efetivo, pode ser que derrubar os sites do FBI não signifique muita coisa, que seja "fácil" como alguns dizem e que eles não guardem informações substanciais no site para que um ataque possa colher informações valiosas. Mas é preciso pensar nesse movimento para além de suas atitudes mecânicas de manifestação. Derrubar sites como o FBI provavelmente foi realizado apenas para mostrar que o movimento existe e que eles podem causar certo estrago se leis como o SOPA e o PIPA continuarem tramitando no congresso dos EUA. No entanto, a imagem simbólica do movimento é o ponto central da ação, e não a derrubada do site. O nome "anônimo", a máscara ou a falta de rosto em algumas imagens é um instrumento poderoso de manifestação, e comporta o aspecto central do nosso cotidiano. A contra cultura hoje é anônima, sem rosto, o que suscita que pode ser qualquer um, em qualquer lugar. Isso pode ser visto como uma arma extremamente poderosa em termos de movimentação social e remete a falta de direcionamento e respostas que a esquerda vive desde o término da URSS. A movimentação hoje é real, mas não definida. O inimigo, ou amigo, pode ser qualquer um de nós. Isso já foi elaborado por teorias militares, como o inimigo interno das Ditaduras de Segurança Nacional, que poderiam potencialmente ser qualquer um da sociedade. Mas hoje esse mesmo conceito é utilizado pelos manifestantes, por opção, quebrando as fronteiras da nacionalidade. O Anonymous é essencialmente internacional e desconhecido.

É para detalhes como esses que deveremos ficar atentos e é para os movimentos sociais que devemos olhar. Como a massa reage pode ser o início da resposta que a esquerda tanto procura.