Simpósio Internacional

A partir da próxima segunda-feira (10) estará acontecendo na PUCRS o Simpósio Internacional: ESTADO E SOCIEDADE CIVIL - Ditaduras na América Latina do século XX”.

Segue abaixo a programação:

10/10/2011 – 14h
Prof. Jaime Gabriel Yaffé Espósito (Universidad de La República, Uruguai)
“La dictadura uruguaya (1973-1985). Perspectivas de investigación e interpretación historiográfica”
Debatedor: Prof. Enrique Serra Padrós, UFRGS
Mediador: Helder Gordim da Silveira

11/10/2011 – 9h
Prof. Miguel Ángel Taroncher (Universidad Nacional de Mar del Plata, Argentina)
“El derrocamiento de Illia (1966): consenso de terminación y liderazgo alternativo”
Debatedor: Prof. Hernán Ramiro Ramirez, UNISINOS
Mediador: Jaime Valim Mansan

Local: Prédio 3, Sala 307, PUCRS
Inscrições pelo e-mail: estado.soc.civil@gmail.com 
Vagas limitadas

Prof dos EUA, Bryan McCann, palestra na PUCRS

Na última sexta-feira (7) o professor da Universidade de Georgetown palestrou na PUCRS. O evento foi promovido pelo  Programa de Pós-Graduação em História da mesma universidade.

A temáica discutida pelo brasilianista foi:“Favela e Cidade nos longos anos 80 no Rio de Janeiro”.

Para quem perdeu e tem interesse em assistir a palestra, na próxima segunda-feira (10) o professor irá falar sobre “Regionalismo Comparativo do Nordeste e do Sul na Música Popular Brasileira” às 17h na PUCRS.


Maiores informações sobre o evento: Fone: (51) 3320-3534.

COLOQUIO

Nos dias 16, 17 e 18 de novembro acontecerá na Universidade Católica de Pernambuco o V Colóquio de História - Perspectivas históricas: historiografia, pesquisa e patrimônio

Maiores informações no site:  http://coloquiodehistoria.wordpress.com/

Uma reflexão sobre a legitimação da arte contemporânea

Por Roberta Ribeiro Prestes [1]

A arte contemporânea é muito questionada e problematizada. Além de não existir uma definição precisa para o que é arte, contemporaneidade tão pouco possui uma delimitação temporal precisa.
Enquanto há os que defendem uma arte mais clássica, dentro de antigos cânones, há os que afirmam a existência de uma arte mais “livre”, mais expressiva, sem tantos critérios estéticos.
Apesar de ter estudado um pouco de história da arte, ir a diversas exposições de arte contemporânea, e mesmo trabalhar em muitas bienais do MERCOSUL, eu sou a moda antiga, defendo a arte dentro de cânones, aquela que se legitima sozinha, que não precisa estar dentro de uma instituição para ser reconhecida como tal.
Em muitos momentos me perguntei o que era arte ou porque isso ou aquilo era uma obra. Entre as coisas que já fiz na minha vida, pintei por um longo período, e, da mesma forma que outras colegas minhas, perguntava pro meu professor o que me legitimava como pintora: uma exposição?, um curador?, um marchand?, ou ele? A resposta que minha turma de sextas pela manhã recebeu foi: vocês mesmas se legitimam a partir do momento que acreditam que são artistas e que seus trabalhos são obras de arte e não simples pinturas. Fim da história? Desisti de pintar, pois eu não acreditava que meus quadros eram obras “de verdade”.
O que eu quero dizer com isso tudo é que acreditamos que a legitimação tem que vir de uma instituição, da mesma forma que precisamos de um certificado que comprove nosso conhecimento numa língua estrangeira, mesmo que haja uma grande fluência.
Não vejo problema de uma obra ter que ser legitimada por algum cânone ou por instituições que a promovem, mas vejo problema na falta disto, de uma arte que acaba sendo “aceita” no circuito não por sua qualidade artística e sim porque o cara conhece o curador da exposição, ou coisas do gênero.
Enfim, deixando de lado o artista em si e voltando a obra propriamente dita, acredito que a arte hoje, muitas vezes quando sai do contexto da exposição ou do local onde a legitimamos como arte, perde todo o seu caráter. Lógico que terão os que lembrarão de Duchamp, mas apesar de hoje eu questionar obras como a que ele foi pioneiro, compreendo que naquele momento ele foi um gênio. Ele soube como criticar o que acontece até os dias de hoje com a obra de arte: a falta de critérios, de estética, de qualquer tipo de limite.
A liberdade criativa tem que existir sim, mas a estética, a justificativa e o estudo também, sem falar no profissionalismo. Acredito fielmente que hoje existem artistas comprometidos, que fazem coisas maravilhosas (e não estou me referindo a uma estética que me agrade visualmente, acho “horrorosos” os quadros do Iberê Camargo, por exemplo, mas reconheço como são “lindos” – espero que entendam o que disse), porém, tantos outros que estão ai expondo são imperdoáveis e não deveriam ser considerados artistas.
Daí, isso tudo me faz questionar qual é o público de arte contemporânea. Pois, se pararmos para pensar, cada vez mais é fechado para intelectuais e estudiosos da área porque as pessoas praticamente não tem o direito de simplesmente dizerem que gostaram ou não daquilo. Não podem criticar sem um conhecimento maior, mas ao mesmo tempo, como vão conhecer se é um campo tão fechado e que a cada dia mais e mais artistas surgem, sem nenhuma procedência, sem nenhum currículo e pior ainda, com pouco conteúdo.
A arte contemporânea, pra mim, se perdeu um pouco na tentativa de renovar, inovar e também de ser “popularizar” sem deixar de ser erudita. Cada vez mais se fala em aproximar as pessoas do museu, da arte, mas o que vejo acontecer é um processo de afastamento. Não há critérios, não há novidades e sobretudo não há beleza na arte, isso se perdeu e é isso que gostamos de ver. Os quadros de Picasso podem ter sido considerados horríveis no seu tempo e Van Gogh pode não ter sido compreendido, mas a beleza e a qualidade estética de ambos são inegáveis.
Hoje, a arte mais lança questionamentos, sobre sua legitimação, conteúdo e qualidade do que apresenta algo ao público. A partir do momento que consideramos que “qualquer um” pode ser artista em qualquer momento e que avaliamos “qualquer coisa” como obra de arte, todo o encantamento se perde.

[1] Licenciada, bacharel e mestre em História pela PUCRS, atualmente é aux adm de marketing do JC.

O que é arte contemporânea?

Por Martinho Junior [1]

A pergunta certamente é capciosa e não carece de resposta, mas de outras indagações. De fato, quando pensamos, grosso modo, sobre arte contemporânea automaticamente uma pletora de imagens as mais diversas povoam nosso imaginário: Urubus voando em um enorme viveiro, espaços vazios, vapores, telas dilaceradas, corpos dilacerados, animais e mesmo artistas mortos. É um vale tudo? Sim e não. Sim, todos os materiais, todos os questionamentos são possíveis: luz, aço, carne; filosofia, semiótica, matemática. Não, nada daquilo fora da gramática da ‘arte contemporânea’ pode ser lida como arte. Alguns exemplos marcantes: Qual é hoje o espaço que a pintura possui? Claro que ela existe ainda. Pintura de qualidade e inventiva. Mas seu espaço é relativamente pequeno frente aos tantos outros modos que vimos nascer com o modernismo. Portanto, depois de colagens, rasgos, tiros e outras tantas intervenções, por que continuar insistindo em um meio desgastado? Proclama-se a morte da pintura, mas, sua reinvenção nunca cessou de acontecer.
Qual é o papel do belo hoje? Claro que podemos questionar, assim como Ronaldo Brito, que para pensar o belo ou o novo, somente recriando seus significados. Porém, insisto: o que é o belo hoje? A atenção, certamente é menor a algo que sempre fora inerente a construção artística. Mas há um exemplo que vai ao cerne destes questionamentos.
Em 2003, Regina Silveira, em uma grande intervenção do Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo, realizou a mostra Claraluz. Nela, o imaterial e fugidio eram preponderantes, já que o elemento principal era a luz. A claraboia do CCBB, única fonte de luz natural do prédio é anulada pela artista, e no eixo fulcral da exposição um potente projetor reproduz fortemente a imagem da claraboia, desta vez fragmentada como que estilhaçada no chão.
Ora, uma obra como esta se sustenta, sobretudo no diálogo: no diálogo que mantém, claramente com o edifício histórico do centro velho de São Paulo; no diálogo com o entorno, o próprio centro e no diálogo com a arte contemporânea, seja da artista ou em um âmbito mais geral. Contudo, o que interessa neste momento é perceber o espectador naquele lugar. Visto do lado externo, o prédio estava ‘apagado’ sem nenhuma luz e mesmo assim aberto. Ao se aproximar, o espectador é tragado pela obra: uma forte luminosidade cristalina, dourada que banha o centro do edifício. A obra funcionava na medida em que o observador andava pelo hall, sua sombra também era partícipe desses elementos. De uma elegância e beleza difíceis de transcrever, pois era uma obra, antes de tudo, de vivência, viver a/na obra.
Aspecto difícil de classificar, mas moeda corrente na arte hoje. A imersão na imagem – não como entrar em uma performance ou em uma grande instalação – mas literalmente fazer parte da imagem. O próprio discurso dos artistas vai se alterando consideravelmente com o passar dos anos, seus pensamentos acompanham suas obras: se na década de 70, em que a regra era a arte conceitual um artista falava ‘minha arte não é popular, porque demanda de conceitos’ etc. etc. etc. Hoje, não raramente encontramos os mesmos artistas dizendo ‘cada qual enxerga e aproveita a obra de uma determinada visão’. Os conceitualismos caíram em desuso, assim como sucessivamente todos os “novos” que aparecem. Novos modos, conceitos – embora, muitas vezes equivocados – surgem.
Mas há uma resistência válida: se a arte hoje pode ser múltipla e heterogênea ela não pode, paradoxalmente, negar qualquer que seja sua forma de apresentação. Então, na marginalidade (ou seja, que margeia), artistas começam a criar elementos poderosos daquilo que, a rigor, não mais se faz hoje. Por certo, vivemos em um período transitório, conturbado, mas que daqui e aqui sairá frutos importantes para outro tipo de arte, um outro tipo de novo, de contemporâneo.


[1] Martinho Junior é autor de Regina Silveira, CCBB e seus espectadores, Bluecom, 2009. Doutorando em História da Arte pela UNICAMP, pesquisador do Centro de História da Arte e Arqueologia.

ARTE CONTEMPORÂNEA

Inaugurando a pauta desta semana, uma reportagem sobre um novo espaço de arte que abre em Porto Alegre esta semana.

Logo postaremos os textos desta semana.

marcha contra a corrupção

Vou deixar de lado diversos pensamentos a respeito do assunto...
Mas é impossível não comparar a marcha que ocorreu ontem (7 de setembro) contra a corrupção no país e a campanha de Janio Quadros. Simples motivo: usarem a vassoura para varrer a corrupção.
A simbologia e o objetivo são os mesmos.
Deixo aqui meu pensamento sobre este tema, tão importante para o Brasil e que deve ser levado a sério, independente de semelhanças a um político considerado louco em sua época.



Marcha Contra a Corrupção em Brasilia (7 de set de 2011), política, reflexão histórica


Janio Quadros em sua campanha





Por Roberta Ribeiro Prestes.


Informativo FGV

A Fundação Getúlio Vargas está oferecendo diversos cursos à distância gratuitos. Diferentes áreas são contempladas, desde administração até filosofia e sociologia.

A inscrição é super rápida!

Fica a dica para quem se interessar por uma atualização rápida. Sem contar que a FGV é uma instuição reconhecida no mercado nacional.
Segue o link para os interessados: http://www5.fgv.br/fgvonline/CursosGratuitos.aspx

Como pode uma história, que não é nossa, ser tão lembrada?

Por Raquel Silva da Fonseca[1]

A imagem televisiva da catástrofe do 11 de setembro de 2001 tem o poder de ofuscar outras catástrofes piores do que a tragédia americana. Em texto recente, Noam Chomsky[2] pergunta-se se o 11 de setembro não poderia ter sido pior, como por exemplo, a Casa Branca ter sido destruída por um bombardeio, o assassinato de um presidente eleito democraticamente[3] seguido por uma ditadura de tipo fascista que acarretaria em milhares de mortos e outros milhares de refugiados. Essa provocação de Chomsky é feita para mostra a diferença entre as duas datas, onde o primeiro 11/09 teria motivos suficientes para uma retaliação internacional e o segundo, também justificado em termos de busca pela justiça, acabou resultando em uma série de guerras e intervenções que foram condenadas no cenário internacional. A segunda grande provocação do texto de Chomsky é que o primeiro 11/09 “não teria mudado o mundo”.
A história do tempo recente ou mesmo a história do “imediato” não nos permite ver com clareza a extensão do 11/09. É comum entre cientistas sociais afirmar que esse evento “ainda não acabou”. Como com outras catástrofes, foi gerada uma redoma de vidro em volta da cena das torres caindo, uma experiência traumática que não pode ser revivida em sua essência e que não pode ser completamente relatada. O impacto da imagem das torres, televisionada para o mundo em tempo real, transformou o 11/09 em uma tragédia internacional, vivida além do solo americano e de diferentes maneiras.
O clichê entre nós, brasileiros, dez anos depois da experiência traumática do outro, permanece o mesmo: todos nós lembramos onde estávamos e o que fazíamos quando os EUA foram atacados. E praticamente todos nós tínhamos a mesma frase em mente: “É guerra”.
Este texto, reflexivo apenas, pretende lançar a seguinte questão: Qual é o impacto dessa memória em nossa história recente? Qual será o impacto das sociedades telespectadoras desse episódio? E, o mais importante, por que nos lembramos da tragédia do outro quando mal nos lembramos das nossas hecatombes?
Hoje, o “homem cordial” de Sérgio Buarque de Holanda parece pairar sobre a cabeça dos brasileiros como um fantasma que repete sempre a mesma canção. Somos o povo da felicidade, da festa, da cordialidade, do respeito ao próximo, de braços abertos para o mundo. A história do Brasil do autoritarismo, do Estado Novo, de tentativas golpistas, da Ditadura Civil-Militar, da corrupção, da tortura, não parece abalar em nada essa imagem que ainda temos da nossa sociedade. O dia 31 de março é ainda hoje celebrado com festa por segmentos da sociedade civil e militar, e nossa cordialidade parece não nos permitir nos questionar “por quê?”. As mortes dos americanos do 11/09 são mais lembradas do que as mortes provocadas pelo estado de exceção brasileiro. Os heróis americanos, bombeiros, policiais e pessoas que se ajudaram nos momentos de desespero são mais heróis do que a nossa população que sofre diariamente coisas inimagináveis. Se sairmos na rua e perguntarmos para as pessoas quem elas consideram nossos heróis nacionais terão pelo menos três respostas: “Pelé”, “Airton Senna” e “Ronaldo” [4].
O 11/09 pode ser lido como mais uma marca da falta de memória que nós temos de nossa própria história. A tragédia do outro supera a nossa, como se nunca tivéssemos vivido experiências tão traumáticas como a dos americanos. Estou longe de afirmar que o trauma social dos americanos seja “menor”, que ele não exista e que se perpetue diariamente em sua sociedade. O que estou afirmando é: devemos começar a refletir sobre os traumas vividos pela nossa sociedade, que se perpetuam diariamente, e o esquecimento constante do nosso “eu” social.
Para concluir, deixo uma nova pergunta, sobre um outro trauma social televisionado em tempo real: Onde você estava quando o Batalhão de Operações Especiais invadiu um grupo de favelas conhecidas como Complexo do Alemão?



[1] Licenciada e bacharel em História pela PUCRS. Mestranda pela mesma universidade.

[2]    O texto em inglês pode ser lido no blog: http://english.aljazeera.net/indepth/opinion/2011/09/20119775453842191.html .Estamos trabalhando na tradução desse artigo para publicá-lo no blog Oficina do Historiador.

[3]    Lembramos que recentemente o corpo de Salvador Allende foi exumado pela terceira vez, por uma ordem da justiça chilena, para uma nova autópsia para confirmar a causa da morte do Presidente. A investigação confirma que a causa da morte foi suicídio. Entretanto, é ainda debatido pelas ciências humanas que, mesmo Allende tendo provocado sua morte, ela não teria sido feita se não fossem as circunstâncias impostas pelo golpe de 11 de setembro de 1973.
[4]    Faço uma ressalva: estou apontando que temos o costume de considerar apenas os atletas como heróis nacionais, principalmente quando estes ganham destaque internacional. Não estou fazendo juízo de valor com relação a escolha, só penso ser problemático que atletas são os mais lembrados em perguntas desse gênero. Outro nome que com certeza estaria contemplado na lista seria “Getúlio Vargas”, o “pai dos trabalhadores” e ditador.

Onze de setembro: uma reflexão.

Por Bruno Henz Biazetto[1]

Essa data é sempre um momento de um certo repensar para todos os que trabalham na área de humanas, principalmente aos que interessam pelos temas relacionados a política internacional. Eu, sendo um americanista e vivendo nos Estados Unidos neste exato momento, o senso de analise fica mais aguçado. Para esta breve analise eu gostaria de fazer duas considerações que me parecem bastante apropriadas para este momento. A primeira reside no papel histórico de um dos protagonistas do episódio, o ex-presidente George W. Bush. A segunda é refletir um pouco sobre as previsões para este século que foram feitas no pós 11/09, e como elas nos parecem hoje, em 2011.
            Em maio deste ano, o canal de televisão a cabo National Geographic entrevistou o ex-presidente George W. Bush, tendo em vista a montagem de uma série de depoimentos de protagonistas no dia dos atentados. Essa entrevista foi ao ar no final do mês passado e teve grande repercussão aqui nos Estados Unidos. Ainda para mim e nítida a imagem de um Bush desafiador, discursando do Salão Oval na noite após os atentados. Naquele instante, ele tentou emular o mesmo tipo de retórica do discurso de Franklin Roosevelt após o ataque a Pearl Harbor em dezembro de 1941. O discurso simbolizava ao mesmo tempo o lamento da tragédia americana e a exortação a justiça dos que praticaram uma agressão a uma nação que se percebe como portadora dos mais nobres ideais do mundo ocidental.
            Bush sempre gostou de pensar a si mesmo como um homem de ação e, não de reflexão. Dentro dessa ideia de que agir era o que realmente contava e na certeza da justiça de sua causa, ele ordenou a derrubada do governo Talibã no Afeganistão, a caçada global a rede AlQaeda e imposição de pressão constante sobre regimes considerados antiamericanos. Dez anos depois, duas guerras, 4 trilhões de dólares, 7.8 milhões de refugiados no Iraque e no Afeganistão e 140.000 mortos entre civis e militares dos países envolvidos, o Bush do depoimento é um homem marcado pelas decisões que tomou.
            Hoje vivendo em subúrbio de Dallas, cobrando mais de US$ 100.000 por palestra, o ex-presidente é um homem assombrado pelas ações de sua presidência. Em seu depoimento para a NetGeo, não estava ali mais o homem cuja principal característica era a famosa bravata texana (swagger). Ali estava um homem envelhecido, prostrado e com um tom de voz baixo e moderado, que parecia refletir profundamente sobre o seu papel no episodio e nas consequências dos seus atos. Após uns cinquenta minutos, veio o que poderia se dizer que foi o ápice da entrevista, onde ele afirmou que ele tinha chegado ao poder para ser um presidente de questões domésticas, mas que as circunstâncias o transformaram em um presidente de guerra. E, que se ele pudesse ter escolhido, preferia nunca ter sido um presidente voltado para a Guerra ao terror.
            Sei que pode ser difícil acreditar em arrependimento genuíno, mas talvez essa tenha sido a mais reveladora entrevista de um presidente americano desde a legendária entrevista de Richard Nixon com David Frost, em meados dos anos 70. É muito raro um presidente americano ter um momento de revelação tão intenso e a entrevista de Bush me parece que foi um destes momentos.
            Me parece que o seu pesar na entrevista foi agravado pelo fato de que o ato final de sua presidência foi o de empurrar os Estados Unidos para uma das maiores crises econômicas de sua historia. E isso me conduz ao segundo ponto, que são as previsões que foram feitas há dez anos. Lembro que muito se falou que o novo século seria marcado pela chamada “Guerra ao Terror”. Não faltaram intelectuais de diferentes correntes defendendo essa tese, de que o ataque marcaria o início do grande choque de civilizações, apresentado por Samuel Huntington nos anos 90.
            Na verdade, o que o ataque de 11/09 fez foi apenas acelerar o processo que é a verdadeira grande historia do século XXI, que é a ascensão dos emergentes e a mudança do eixo econômico mundial. Nesse sentido, como foi pontuado pela revista The Economist, Osama Bin Laden obteve êxito. Ao arrastar os Estados Unidos para duas guerras de atrito no Oriente Médio, os americanos perderam o foco nas questões econômicas e na tão necessária adaptação aos novos competidores do século XXI. Por isso, que nessa hora eu não invejo os colegas das Relações Internacionais, que tem que interpretar os eventos no instante em que eles ocorrem. O passado, mesmo com suas idiossincrasias, ainda é um refugio onde o historiador pode ter o tempo que quiser para elaborar as suas inquietações intelectuais.
            Por fim, o processo iniciado pelos ataques terroristas em Nova York e Washington há dez anos, ainda esta inacabado. Contudo, a lição clara que fica é a de que na condução dos assuntos nacionais, decisões baseadas apenas em instinto geralmente causam grandes equívocos. A complexidade do Estado exige de um presidente o equilíbrio entre firmeza e a reflexão, algo que Barack Obama parece entender melhor do que Bush. Mas ainda assim, isso não será suficiente para reverter o grande processo que iniciou a dez anos que hoje se transformou em uma árdua luta pela hegemonia, que moldará o nosso tempo de maneira que ainda não podemos perceber.


[1] Licenciado, bacharel e mestre em História pela PUCRS. Doutorando em História pela Universidade de Georgetown, nos EUA.

Normas para envio de texto para publicação no BLOG

Qualquer pessoa pode enviar seu texto para publicação, desde que siga corretamente as normas exigidas:

1. adequação do texto com a pauta quinzenal;
2. não ultrapassar duas páginas de Word, fonte times new Roman, tamanho 12, espaçamento 1,5;
3. colocar o nome completo e e-mail para contato;
4. originalidade do texto;
5. não enviar mais de um texto por pauta;
6. enviar o texto por e-mail até 5 dias antes da publicação da pauta;
7. enviar o texto por Word para o e-mail: oficina.historiador@gmail.com
8. caso haja citações de site, colocar o endereço;
9. caso haja imagens, anexá-las ao final do texto.

APRESENTAÇÃO

O Blog Revista Oficina do Historiador define-se como um meio de discussão online acerca dos mais variados assunto. A cada quinze dias será apresentada, pelo twitter e pelo facebook, uma nova pauta, possibilitando que os interessados enviem seus textos para publicação no blog.
Seu vinculo com a Revista Eletrônica Oficina do Historiador se dá de maneira indireta, pois o blog não possui um perfil acadêmico de publicação.
Para a seleção de textos será levado em consideração: a temática, a relevância e originalidade do texto e a adaptação da linguagem.